Ô DE CASA !
MEU TERNO CHEGOU NA SUA MORADA.
É O CICLO NATALINO
DO NASCIMENTO DE CRISTO ATÉ A CHEGADA DOS REIS MAGOS (06 DE JANEIRO).
PEÇO QUE REENVIE ESTE TERNO VIRTUAL PARA OUTRAS CASAS
PARA QUE POSSAMOS CONTINUAR "TIRANDO RESES".
ATÉ O ANO QUE VÊM !
PARA QUE POSSAMOS CONTINUAR "TIRANDO RESES".
ATÉ O ANO QUE VÊM !
J.C. PAIXÃO CÔRTES
Descreve
Giovani Grizotti
Recebi do mestre Paixão Côrtes, por e-mail. Receber uma mensagem do maior tradicionalista vivo, é mais do que uma honra. É um presente. A pedido do próprio Paixão, que nessa música abaixo, resgata a tradição dos Ternos de Reis, reparto com vocês. Ajudem a espalhar e fazer essa canção checar aos quatro cantos do Rio Grande e também fora dele!
Descreve
Giovani Grizotti
Recebi do mestre Paixão Côrtes, por e-mail. Receber uma mensagem do maior tradicionalista vivo, é mais do que uma honra. É um presente. A pedido do próprio Paixão, que nessa música abaixo, resgata a tradição dos Ternos de Reis, reparto com vocês. Ajudem a espalhar e fazer essa canção checar aos quatro cantos do Rio Grande e também fora dele!
Amplio a pesquisa com esta reprodução:
Meu terno chega em sua morada, louvando os Reses:
Agora mesmo cheguemo
Meu senhor dono de casa
Na beira de seu terrero
Escutais que ouvireis
Para tocá e cantá
Numa lapa em Belém
Licença peso a premero
Nasceu o Reis dos Reis
Porta aberta, luz acesa
Os anjos, santos, pastores
É sinal de alegria
Uniam oração puras
Entra eu, entra meu terno
Tecendo a Jesus louvores
Entra toda a compania
E glorias nas alturas
Jesus Cristo está nascido
Dentro da majedoura
Para ser sempre adorado
O senhor Jesus nasceu
Nosso prazer é profundo
Hoje é noite de Natal
És o filho de Deus que veio Salvar o mundo
Brilham estrelas no céu
Tinha Deus determinado
Melchior , Baltazar , Gaspar
A Humanidade remir
Trazendo ouro, mirra, incenso
Libertando-a do pecado
Ao rei que vão adorar
E lhe dando outro porvir
Por que tem prestigio imenso
E nesse presépio oculto
Vamos dar a despedida
Tão pobre de ostentação
Como deu Cristo em Belém
Veio a luz belo vulto
Esse terno se despede
Que nos trouxe a salvação
Até o ano que vem.
Paixão Cortês & Marina
Ó de casa!
Sempre que se aproxima o fim do ano, vejo entristecido que a querência vai se deixando envolver, mais pelas fantasias das luzes da cidade, pela ambição de um certo comércio, sedento de grandes lucros. Refiro-me ao PAPAI NOEL e ao NATAL.
Desde meus tempos de piá, cruzando a linha divisória que une Santana do Livramento à Rivera (Uruguai) e, anos mais tarde, quando em pesquisa sobre música folclória, visitei o Paraguai, Argentina e Bolívia, verifiquei ainda a diferença das comemorações do Ciclo Natalino desses países com o nosso.
Aliás, da América Latina, é, mais freqüente no Brasil, que apareça a figura, misto de "Lucifer-santo", atemorizando as crianças travessas e faltosas, prometendo-lhes varas de marmelo e, quase ao mesmo tempo, com um saco de brinquedos às costas, estende a mão aos guris comportados, oferecendo-lhes "bondosamente" presentes.
Na maioria dos demais países sul-americanos, não encontramos Papai Noel distribuindo presentes no Natal, como acontece em nosso país.
A verdadeira tradição natalina rio-grandense é aquela em que se comemora o dia do nascimento de Cristo, diante de um presépio, com Menino Jesus na manjedoura, com burrico, vaquinha, ovelha, cânticos, anunciando a chegada dos Reis Magos...
Este é o verdadeiro NATAL GAÚCHO Festa da família. "Dia de Navidad" como denominam os países de língua espanhola na América do Sul.
Qual a razão do renascimento do culto de uma árvore, tão difundido entre os povos mais primitivos? De onde é, este tipo de pinheiro, estranho ao nosso, que se desenvolve em determinadas regiões do Brasil?
Imaginem só! No mais forte do verão, aqui, um Papai Noel vestido com grossas roupas de lã, capuz, todo respingado de neve, descendo, de botas, de uma chaminé ou sentado em um trenó, puxado por gamos...
Velinhas e bolinhas coloridas completam os enfeites das mesas onde são servidas nozes, tâmaras, torrones, chocolates, ameixas secas, passa, etc, alimentos de alto teor calorífico, próprios para o inverno, em pleno clima europeu...
Tudo isso num país tropical como o Brasil!!!
Entretanto, tentemos encontrar, na história universal das festividades natalinas, algumas explicações para o surgimento de certos acontecimentos, hoje vividos em muitos rincões do mundo.
No Rio Grande do Sul
O nosso homem do campo desconhece as comemorações do natal à maneira como hoje são usuais nas cidades, como uma árvore de neve, enfeitada, e de presentes ansiosamente esperados, com um Papai Noel atemorizando os guris travessos ou fazendo elogios ao bom filho. Isto não quer dizer que no campo os homens tenham se esquecido das mensagens cristãs de Natal, a entrada do Ano Novo e o Dia de Reis. Se o dia primeiro de janeiro é festivamente assinalado por um churrasco e "ressacas", não menos vibrantes são os festejos de Natal, com os "Ternos de Reis" - grupos musicais que anunciam, de rancho em rancho, de casa em casa, o nascimento do Salvador.
O objetivo desta visita varia de um terno para outro: alguns visam unicamente louvar a memória de Jesus Menino; outro terno visa propiciar aos cantadores uma doce retribuição ao desgaste de suas cordas vocais, através de fartos comes e bebes que os donos da casa nunca se esquecem de oferecer. Finalmente, há aqueles que, oprimidos pelas necessidades materiais que muitas vezes afligem nossos trabalhadores rurais, saem "pedindo os reis", na certeza de que ao menos no campo ainda não se esqueceram de toda as lições de fraternidade que Cristo legou aos nossos homens de bem.
Cantiga de Reses - Origens
A "Cantiga de Reses" é uma tradição comemorativa da visita dos Reis Magos quando do nascimento do Menino Jesus. Sua origem perde-se na poeira dos tempos e hoje se resguarda nos rincões mais afastados de nosso pago, onde as inovações do progresso ainda não se firmaram e onde a gente simples e boa não precisa apelar para nada mais do que seus sentimentos cristãos, a fim de conseguirem beleza e alegria para as festas do Natal. É uma festividade alicerçada nos acontecimentos bíblicos da religião católica.
Esta herança, que nos legaram os colonizadores portugueses, encontrar-se não somente no Rio Grande do Sul, mas é rememorada em muitíssimos estados do Brasil, onde foi sofrendo modificações, ampliadas por motivos folclóricos particulares, conforme atestam os trabalhos realizados por eminentes folcloristas, como sejam: Crispim Mira, Morais Mello Filho, Achiles Porto Alegre, Câmara Cascudo, Renato Almeida e tantos outros, afora os mencionados anteriormente.
Expansão e declínio
Os ternos foram cantados em quase todo o Rio Grande do Sul, com maior ou menor intensidade neste ou naquele rincão (sendo que numa pequena faixa da fronteira com o Uruguai e Argentina essa manifestação é desconhecida), ou raros cantadores faziam seu "peditório" quase que somente nas cidades. Hoje, ainda vamos encontrar este acontecimento pelas regiões ribeirinhas de Jacuí, Taquari, Sinos, Gravataí, etc, que formam o grande estuário do Guaíba, bem como a área lacustre dos Patos. Todavia, é numa boa região litorânea, onde esta tradição é mais pura, mais viva. Elaboramos um mapa, no qual pode-se observar que essa manifestação parece ter sido mais intensa no Rio Grande do Sul, nas regiões onde a colonização açorita esteve mais presente, bem como nos rincões onde a influência dos "catirineta" é marcante.
Entre os muitos fatores que contribuíram para o quase desaparecimento dos Ternos de Reis em nosso estado, destacamos a máquina do progresso, trazendo enfeites e missangas coloridas; o surgimento de "novas modas" lançadas pelos meios de comunicação, especialmente rádio e tv; determinadas medidas policiais, que perduraram por mais de uma década, por todo o País do chamado ESTADO NOVO, e que, em muitas regiões faziam confundir "tradição" com atentado à "Ordem e Progresso" da nossa bandeira, só permitindo a glorificação do nascimento de Cristo pelo Terno, após o pagamento de uma licença que era conseguida em uma "delegacia" situada a dezenas de quilômetros. Caso contrário, o "terno ia tirar reses no xilindró".
Estas "leis", aplicadas pelos discutidos "inspetores de quarteirões" - "zeladores da tranqüilidade e sossego público" - fizeram com que, em rincões outrora tão vivamente festejado, os Ternos atravessassem um período de letargia residindo, mais na memória saudosa de alguns velhinhos dos "bons tempos".
Deve ser lembrada também a atitude e incompreensão de certos clérigos de outrora, vindos de regiões coloniais de formação cultural ítalo-germânica e sem raízes brasileiras... Felizmente, este aspecto vem se modificando, e as próprias resoluções do último Concílio Ecumênico, recomendam em sua Constituição "Sacrosanctum Concilium" da Sagrada Liturgia, entre outras coisas, que "O canto popular religioso seja inteligentemente incentivado de modo que os fiéis possam cantar nos pios e sagrados exercícios e nas próprias ações litúrgicas de acordo com as normas e prescrições das rubricas"; "quando se encontrarem em algumas regiões, principalmente nas missões, povos que têm uma tradição musical própria, a qual desempenha importante função em sua vida religiosa e social, deve-se tomar em conta essa estimação da música, e dar-lhe um lugar conveniente tanto para lhes formar o senso religioso, quanto para adaptar o culto à sua mentalidade, de acordo com os arts. 39 e 40".
Participantes
É variável o número de participantes de um Terno, pois nem sempre os cantadores são também instrumentistas, e isso obriga a uma maior divisão de funções. No geral, não vai além de oito pessoas: o Mestre ou Guia e o Ajudante de Mestre; Contramestre e Ajudante de Contramestre; o Tipe; o Tambor; o Triângulo e a Rabeca. O Mestre, que é o diretor, deve não só ser bom repentista como também um bom conhecedor da história do nascimento de Jesus, principalmente no que se refere à visita dos Reis Magos.
Obrigatoriamente, o grupo - chamado menos frequentemente de "folião" - não veste roupa especial. No entanto, em muitas oportunidades encontramos as figuras dos Três Magos com coroas, capas e túnicas coloridas, convencionadas pela religião católica. Os referidos Reis podem ou não integrar o próprio conjunto musical ou vocal do Terno.
Em outras regiões, os "cantadores de Reses" se apresentam só com coroas (também de papelão) e roupas de uso cotidiano. Há ainda grupos em que Baltazar, Gaspar e Melchior são crianças, vestidas a caráter, levando, simbolicamente, cofres e oferendas com que os Magos presentearam o Deus Menino, no presépio.
Em outros Ternos, uma criança vai à frente carregando uma haste de madeira (vime), na extremidade da qual, vê-se uma estrela-guia (de papelão prateado) fixa, como a indicar o caminho que orientou aqueles que foram adorar Jesus na manjedoura.
No Rio Grande do Sul, estão ausentes palhaços, estandartes e outras figuras, e a apresentação dos Reses não tem vínculo com pagamento de promessas.
Embora raro, encontrava-se outrora na região litorânia do Norte do Estado, Ternos acompanhados de "Pau-de-Fita", "Boizinho", "Buma-meu-boi", etc, então com suas representações coreográficas algo dramáticas, lembrando um Rancho definido por Mario de Andrade. Apareciam também, por vezes, homens vestidos de mulheres, bem como os arcos de flores das "Jardineiras", o cavalinho, o porco, caetetu, uma verdadeira bicharada.
Instrumentos musicais
Há uma variedade de instrumentos empregados nos Ternos, de região para região.
Em nossas pesquisas, observamos, em determinadas áreas (como a do Litoral Norte do Estado) que os antigo tiradores de Reses consideram que um Terno, para ser autêntico, deverá utilizar somente instrumentos de corda, com acompanhamento de tambor. Os cordófones empregados outrora eram a viola (de 10 a 12 cordas) e a rabeca.
Em outras áreas - Tapes, Camaquã, Barra do Ribeiro, São Lourenço - o importante até os dias atuais é o tambor, ao qual se juntam gaita (acordeão), violão, sininho ou triângulo. Aliás, na falta de um destes dois últimos, se usa um estribo de montaria (especialmente de meia-picaria) que se constitui numa característica instrumental peculiar da região.
Bem posterior à metade do século passado, surgiu o acordeão que se tornaria mais tarde elemento dominante na música rio-grandense. Este instrumento, nos dias atuais, tem sua presença obrigatória nos Termos.
Em alguns rincões, vê-se, com menos freqüência, cantigas acompanhadas de pandeiro e de um chocalho original, este de confecção artesanal, feito com tampas de garrafas e que desempenha também a função de percussão. Outro instrumento que vem marcando presença crescentem ao lado do violão, é o cavaquinho.
Cada músico, que recebe o convite do Mestre, traz consigo o seu instrumento em condições. Encontramos referências a alguns elementos musicais citados, nos próprios versos dos cantadores:
Nosso Terno está cantando
As violas estão tinindo
Vosso pinheiro brilhando
Com suas folhas luzindo
Está preso o mestre do Terno
Com todos os seus companheiros
Com todos os instrumentos
Gaita, violão e pandeiro
Meu senhor o mestre do Terno
Vamos lhe apertar a mão
A "nois" entrega a gaita
Seu tambor e seu violão
Sintetizando: os dias presentes, podemos considerar como instrmentos fundamentais para a reconstituição de um Terno: gaita, viola, rebeca (violino caseiro),tambor e triângulo.
Visita
Em traços gerais, a visita dá-se da seguinte maneira: no terreiro da casa, tendo à frente o "mestre" e o seu "ajudante", seguido do "contramestre" e seu "ajudante" e respectivos instrumentos, o Terno se aproxima em silêncio a abre o peito. São os versos de "saudação" ao dono da casa, solicitando permissão para cantar e, ao mesmo tempo, justificando-se da sua chegada.
Quando a visita se faz à luz do dia, avisa-se antes, para as devidas providências.
A residência visitada deve estar com portas e janelas fechadas. Daí, segue-se um verdadeiro ritual, tanto do dono da casa como do mestre e seus companheiros, que se traduz em versos adequados até o convite do proprietário para entrarem na casa. Damos uma série de exemplos poéticos recolhidos por nós, e que registram momentos de chegada, pela noite a dentro ou da madrugada para o clarear...
Chegada
Agora mesmo chegamos
Na beira do seu terreiro
Para tocar e cantar
Licença peço primeiro
Meu senhor, dono da casa
Acordai, se estais dormindo
Venha ver a estrela D'alva
Que bonita está saindo
Meu senhor, dono da casa
Se escutar me ouvireis
Que dos lados do Oriente
São chegados os Três Reis
Vimos lhe cantar os Reis
E também lhe visitar
Ó de casa, casa santa
Onde Deus veio habitar
Meu senhor, dono da casa
Peço licença prá cantar
Recebei este Terno
O passado vem lembrar
Agora mesmo cheguemos
Nesta noite de luar
Acordai se estais dormindo
E venha nos escutar
Agora mesmo cheguemos
Ó de casa nobre gente
Acordai se estão dormindo
E alegrai se estão doente
Nosso Terno está chegando
Trazendo felicidade
Acordai se estão dormindo
Nos mostrai a claridade
Agora mesmo cheguemos
Trazendo muita alegria
Acordai se estão dormindo
Que já está clareando o dia
Meu senhor, dono da casa
Com sua devida licença
Vim saudar o Deu Menino
Nesta sua residência
Toda a gente e todo povo
Nesta casa quer chegar
Para ver Jesus Menino
Que a todos vem salvar
Arrecém vamos chegando
Com a estrela de guia
Procurando Jesus Cristo
Filho da Virgem Maria
Meus senhores donos da casa
Licença peço outra veis
Este Terno lhe visita
Festejando os Santos Reis
Nosso Terno está chegando
Cantando com harmonia
Espero que nos receba
Com prazer e alegria
Esse é o primeiro verso
Que nesta casa eu canto
Em nome de Deus começa
Padre, Filho, Espírito Santo
Meu senhor, dono da casa
Esta vai em seu louvor
Viemos lhe acordar na cama
Feito raminho de flor
Este Terno que aqui canta
Chegaram do Oriente
Acordai se estás dormindo
E alegria se estais doente
Senhor chefe da casa
que repousa em vossa cama
ouve a voz destes servos
pois Jesus Cristo lhe chama
Acordai se estás dormindo
Levanta se estais doente
Que a chuva está caindo
Tenha pena desta gente
Meu senhor, dono da casa
Corra mão na fechadura
Meu Terno está cansado
Tenha pena das criaturas
Este Terno que chegou
É Terno de muita harmonia
Visitando o dono da casa
Com toda a sua família
Agora mesmo cheguei
Botei o pé na calçada
Vim fazer uma visita
Aos donos desta morada
Meu senhor, dono da casa
Escutai o verso primeiro
Chegue na porta da frente
Presenciar o seu terreiro
Lá de longe destinamos
Na sua casa chegar
Para seu merecimento
Vimos lhe visitar
Ó de casa, casa santa
Onde Deus fez sua morada
Onde mora bom Jesus
Com a hóstia consagrada
Levantai se estais dormindo
No seu delicado sono
Venha ver Menino Deus
Nos braços de Santo Antônio
Agora mesmo cheguemos
Em sua linda morada
Acordai se estais dormindo
Venha ver nossa chegada
Meu senhor, dono da casa
Nosso Terno está chegando
Vem trazer muita alegria
Que o senhor s'tava esperando
Meu senhor, dono da casa
Nosso Terno já chegou
Vem trazer muita alegria
Que o senhor tanto esperou
Agora mesmo cheguemos
Nesta data tão bonita
Viemos para cantar
E lhe fazer uma visita
Meu senhor, dono da casa
Chegamos em seu terreiro
Para cantar e tocar
Licença peço primeiro
Chegamos aqui chegamos
Em seus portões sagrado
Que seja venturoso
Por Deus abençoado
Vamos lhe cantar os Reis
E também lhe visitar
Ó de casa, casa santa
Onde Jesus veio habitar
Meu senhor, dono da casa
Escutai que ouvireis
Lá do lado do Oriente
Vão chegando os Três Reis
Agora mesmo cheguemos
Iniciamos a cantoria
Vim trazer felicidade
Paz, amor e alegria
Meu senhor, dono da casa
Homem de muito valor
Lá no céu nos há de achar
Uma cadeira de ouro
Senhor chefe da casa
Nesta noite enluarada
Vim fazer uma visita
Em sua bela morada
Senhora dona da casa
Venha cá faça o favor
Venha ver o seu terreiro
Como está cheio em flor
Senhor chefe da casa
Venha cá ver quem sou eu
Viemos trazer notícias
Que o Menino Jesus nasceu
Este Terno que chegou
É Terno de bom critério
Posso apanhar na cabeça
Morro seco e não me entrego
Este Terno aqui chegou
É Terno que sabe o tom
Canta pra rico e pobre
Canta pra ruim e pra bom
Este Terno aqui chegou
Vem de serros além
Canta pra o auditório
Par aos ouvinte também
O meu Terno vem de longe
Passando por maus caminhos
Traz felicidades
Para o senhor seus filhinhos
Nesta altura, ainda não se vê claridade no interior da casa ou qualquer sinal de luz de vela ou luminosidade de lâmpada:
Aqui está os três Reis
Da Santíssima Trindade
Acordai se estás dormindo
E mostrai-me claridade
Nosso Terno está cantando
Trazendo felicidade
"Inda" fica mais feliz
Por ver logo claridade
Observando qualquer sinal de luminosidade, o mestre canta:
Graças a Deus que já vimos
Pelas frestas reluzir
Temos muita fé em Deus
Que a porta nos há de abrir.
Pelo buraco da chave
Vejo vela reluzir
Eu só tenho fé em Deus
Que a porta nos vem abrir
Graças a deus que já vi
Luz nesta casa a luzir
Meu senhor, dono da casa
A porta mande abrir.
Graças a Deus que já vimos
Pelas frestas reluzir
Temos muita fé em Deus
Que a porta nos há de abrir
Graças a Deus que já vi
A luz da vela luzir
Meu senhor, dono da casa
A porta nos venha abrir.
Às vezes, uma janela se entreabre, correndo-se a cortina. Em outras oportunidades, ouve-se barulho na fechadura da porta ou esta começa a ser destrancada, deixando uma folha da porta somente 3/4 da abertura normal. Ouve-se então o "guia":
Meu senhor, dono da casa
Venha nos abrir a porta
O tempo está de chuva
Nós teremos que dar voltar
O meu Terno aqui chegou
Cantando de viva voz
Acordai se estais dormindo
E abram a porta pra nós
Venha nos abrir a porta
Pelas tradições do pago
Pro meu Terno entrar cantando
Entre risos e afagos
Por ordem do Salvador
Todos os bravos se excede
Queira nos abrir a porta
Que vossos servos lhe pede
Meu senhor, dono da casa
Corra a mão na fechadura
A chuva está caindo
Tenha dó das criaturas
Graças a Deus que notei
Claridade a luzir
Meu senhor, dono da casa
A porta nos venha abrir
Senhor chefe da casa
Eu vos peço com ardor
Venha-nos abrir a porta
Tem pena do cantador
Meu senhor, dono da casa
Novamente vou pedir
Acordai se estais dormindo
E a porta venha abrir
Ó feliz abrir a porta
Que estou com o pé na calçada
Não sou feliz, não sou nada
Nós andamos viajando
Chegamos por horas mortas
Senhor chefe da casa
Queira nos abrir a porta
Entrada
A porta é aberta, finalmente, assomando geralmente o proprietário e, em seqüência, a esposa, filhos e parentes:
Porta aberta e luz acesa
Que parece um resplendor
É mesmo o reino divino
Onde está Nosso Senhor
Porta aberta, luz acesa
Sinal de muita alegria
Entra eu entra meu Terno
Entra toda a companhia
Vimos a porta se abrir
E a luz está brilhando
Queremos pedir licença
Pro meu Terno entrar cantando
Porta aberta luz acesa
Sinal de muita alegria
Entra eu, entra meu Terno
Filhos da Virgem Maria
Porta aberta luz acesa
São sinais de alegria
Boa sorte lhes desejo
Neste venturoso dia
Veio nos abrir a porta
Com toda satisfação
Recebendo este Terno
De todo o coração
Agora é a vez de pedir licença para entrar na residência:
Meu senhor, dono da casa
Queira bem nos desculpar
Já que nos abriu a porta
Só falta mandar entrar
Veio nos abrir a porta
Com toda satisfação
Recebendo este Terno
De todo o coração
Porta aberta luz acesa
São sinais de alegria
Boa sorte lhes desejo
Neste venturoso dia
Meu senhor, dono da casa
Com licena do senhor
Querem entrar nesta casa
Baltazar, Gaspar e Melchior.
Porta aberta e luz acesa
Que parece um resplendor
Parece-me o céu aberto
Onde está Nosso Senhor
Graças a Deus já vimos
Seua casa iluminar
Já que nos abriram a porta
Falta nos fazer passar
Na frente de um resplendor
Da luz que está nos clareando
Quero pedir licença
Para nós entrar cantando
Ó senhor, dono da casa
Por favor nos mande entrar
Nosso Terno está aflito
Para o Menino adorar.
Dentro da casa
Dentro da residência, o Terno é recebido pela família e, sempre cantando, tira algumas quadrinhas aos presentes:
Senhora dona da casa
E seus filhinhos também
Viemos lhe cantar os reses
E trazer os parabéns
Quando entrei nesta sala
Toda a casa floresceu
Simboliza a manjedoura
Lugar que Jesus nasceu
Quando entrei nesta sala
A casa se cobriu de flor
Parece o Reino Divino
Onde está Nosso Senhor
Quando me abriu a porta
Clareou todo o salão
Cheio de cravo e rosa
Tapado de manjericão
Já que nos abriu a porta
E veio nos apreciá
Prepare os nossos Natal
Que viemos buscá
Os três Reis por serem santos
Que sairam a caminhar
Procurando Jesus Cristo
Nesta casa vieram achar
Meu senhor, minha senhora
Não fica por esquecido
Cantemos para o senhor
Para seus filhos queridos
Meu senhor, dono da casa
Com sua devida licença
Vim saudar o Deus Menino
Nesta sua residência
Meu senhor, dono da casa
Esta vai a seu louvor
Viemos lhe acordar na cama
Feito raminho de flor
Meu senhor, dono da casa
Homem de muito valor
Lá no céu nos há de achar
Numa cadeira de flor
Deus te salve, casa santa
Onde Deus fez a morada
Onde está o cálix bento
De uma hóstia consagrada
Esta casa está bem feita
Por dentro e por fora não
Por dentro cravos e rosas
Por fora manjericão.
Agradecimento
O momento que antecede ao encerramento da visita dos Santos Reis é o "Agradecimento". Dá-se, ainda, dentro da residência da família "abençoada", após esta ouvir versos referentes à adoração diante do presépio, ou, às vezes, compartilhar de momentos de significado religioso próprio dos Ternos.
Geralmente, o dono da casa oferece, dependendo da hora, uma xícara de café, reforçando com bolo de milho, rosquinha de polvilho, melado, queijo, churrasco, galinhada, uma refeição regada a vinho ou, ainda, alguns tragos de uma "azulzinha de Santo Antônio", para afinar a voz.
Nessa época, as donas de casa se precavêm com adequados alimentos, para que possam receber condignamente eventuais Ternos.
Os versos se relacionam, de certa forma, com as maneiras de como a "companhia" canta por ocasião de sua chegada e do recebimento da família visitada: se o Terno veio, tão somente, louvar o nascimento de Cristo e a Chegada dos Reis, ou, se ele, ao esmolar, pediu, veio buscar o receber os reses. No primeiro caso, os versos de agradecimento se atêm à acolhida da família e à retribuição desta, oferecendo comes e bebe.
No caso de peditório, o tema central das "quadrinhas" são os agradecimentos das ofertas recebidas pelo Terno, alusivos mais às dádivas em dinheiro, oferecidas pelo dono ou dona da casa ou, simplesmente, um chimarrão, dependendo da situação e posses destes:
Senhora dona da casa
Não seja de mau coração
Não podendo dar aos Reis
Nos dê mate chimarrão
Eu agradeço o vinho
que vós nos ofertou
Eis o sangue divino
Que Jesus abençoou
Eu agradeço o pão
Que deu de gesto tão nobre
Pois em nome de seu corpo
Jesus ofertou aos pobres
Eu agradeço a água
Que o meu povo tomou
Jesus Cristo no calvário
De seu corpo derramou
Eu agradeço por tudo
Em nome da Virgem Maria
Que nesta casa não falte
O nosso pão de cada dia
Esta noite aqui passada
Vai deixar recordações
Obrigado dona da casa
Obrigado Dr. Solon
Deus vos dê Festas felizes
Estimados moradores,
A benção de Deus vos cubra
De virtudes e favores
Senhora dona da casa
E seus filhinhos também
Nossa Senhora lhe ajude
Os anjos que digam amém
Lá no céu há de encontrar
Uma cadeira de ouro
Para nela sentar
Ao lado de nosso Senhor
Agradeço para o Senhor
Fomos bem recebidos
Lá no céu vos há de achar
Lindas cadeiras de vidro
Lá no céu há de achar
Lindas cadeiras de flor
Para nela se assentar
Quando deste mundo for
Agradeço para o Senhor
Para toda a sua família
Meu Terno se despede
Com prazer e alegria
Agradeço para o Senhor
E vou lhe avisar outra vez
Se o senhor ficou contente
Nós vamos ficar freguês
Lhe agradeço pelas festas
Dadas de tão bom coração
Lá no céu terás um pago
Da Virgem da Conceição
Deus lhe pague pelos Reis
E outro tanto agradecido
Lá no céu vos há de achar
uma cadeira de vidro
Meu senhor dono da casa
Lhe fico muito obrigado
Lhe fico querendo bem
Pelo seu bonito agrado
Meu senhor dono da casa
Nos fique querendo bem
Deixo Jesus com vocês
E Nossa Senhora também
Senhor chefe da casa
O meu Terno lhe agradeçe
Nem tenho algo que diga
Aquilo que vós merece
Senhora dona da casa
Agradeço a gentileza
Santos Reis que abençoem
A sua sagrada mesa
Nós ficamos agradecidos
E trazemos os parabéns
É de parte dos Três Reis
Que foram a Jerusalém
Agradeço a oferta
Dada de boa vontade
Santos Reis que lhe agradece
E lhe dê felicidade
Obrigado pela oferta
Dada de tão boa mente
O Divino lhe abençoa
Que Santos Reis lhe acrescente
Obrigado pela oferta
Dada alegremente
Jesus Cristo lhe ajude
E seus Reis lhe acrescente
Agradecemos as ofertas
Que deram de coração
Quando deste mundo forem
Os anjos lhe dêem a mão
Senhora que deu Reis para nós
Parece a estrela do norte
Deus cubra de bençãos a vós
Solteira lhe dê boa sorte
Pela oferta que nos deu
Ficamos agradecidos
Na mesma hora que deu
Lá no céu foi recebido
Agradecemos a oferta
Que nos deu esta senhora
Santos Reis há de ajudar
A todos em boa hora
Obrigado pela oferta
Dada de tão boa mente
Que nós cantamos o Terno
Em casa de boa gente
Agradecemos a oferta
Que nos deu este senhor
Nem que lhe pague com a mesma
Sempre lhe fico devedor
Pelo Reis que vós nos deste
Fico muito agradecido
Meu senhor sua família
Sejam todos enflorecidos
Agradecemos as ofertas
Que nos deu o dono da casa
Quando for deste mundo
Os anjos lhe dêem as asas
Vos agradeço a oferta
Que deu de boa vontade
São luzes que vos ascende
No altar da eternidade
Vamos agradecer a oferta
Muito bem agradecida
Saúde e felicidade
No decorrer de sua vida
Agradecemos a tal oferta,
Dada de tão boa hora
Santos Reis há de ajudar
A quem nesta casa mora
Pelos Reis que vás nos deste
Todo de bom coração
Nossa Senhora lhe ajude
E a Virgem da Conceição
Pelo Reis que vós deste
Todo de tão boa mente
Nossa Senhora lhe ajude
Os anjos que lhe acrescente
A moça (o) que deu o Reis
Parece a estrela do norte
Se é casado (a) Deus conserve
Se é solteira (o) boa sorte
Pela oferta que nos deste
Todos contentes vamos
Deus nos queira dar bons pagos
Boas Festas e Bons Anos
Despedidas
O Terno, após fazer o agradecimento, retira-se da residência, para, agora no terreiro, deixar as suas despedidas:
Meu senhor dono da casa
A todos peço perdão
Para ir a outra parte
Decantar a adoração
Meu senhor dono da casa
Vós me queira desculpar
Minha hora foi chegada
Eu quero me retirar
Despedir do dono da casa
E todos os filhos que tem
Nosso Terno vai embora
Mas volta no ano que vem
Meu senhor dono da casa
Vou cantar outra vez
Se gostou do meu Terno
Nós vamos ficar freguês
Nós vamos nos despedir
Até o ano que vem
A todos que estão presentes
Até a volta e passe bem
No adeus da despedida
Cantamos de viva voz
E vemos os anjos do céu
Cantando junto de nós
Nós vamos nos despedir
Encerremos a cantoria
Adeus ó querido povo
Paz, amor e alegria
Vamos dar a despedida
Como deu Cristo em Belém
Este Terno se despede
Até o ano que vem
Regressando aos nossos lares
Despedimo-nos agora
Pois as barras de outro dia
Anunciam nova aurora
Se despede este Terno
Até o ano que vem
Jesus Cristo foi embora
Nós queremos ir também
Adeus Fazenda das Figueiras
Adeus família querida
O "Recordando o Passado"
Deixa aqui as despedidas
Este Terno que aqui canta
Deixa sua saudação
Para todos desejamos
Um feliz ano bom
Aí vem a barra encarnada
Trazendo a barra do dia
Se despede deste Terno
Filhos da Virgem Maria
Agora peço licença
De nos retirar de repente
Sai filhos da Virgem Pura
E de Deus Onipotente
Nossos servos vão embora
Jesus Cristo nos ensina
A deixar a todos vós
A providência divina
Os Reis Magos já cumpriram
A missão que Deus lhe deu
Vamos voltar para os pagos
Contar que Cristo nasceu
Boa noite, meus senhores
Boa noite passem bem
Este Terno se despede
Até o ano que vem
Se gostou do meu Terno
Eu volto para o ano que vem
Se a morte não nos tira
Vos faça vivo e nós também
Nós vamos nos despedir
Adeus família sagrada
Jesus Cristo abençôe
A sua bela morada
Se despeça do meu Terno
Que este Terno vai embora
Peço que fique com Deus
E a Virgem Nossa Senhora
Nós fizemos a reunião
Tudo com muita alegria
POis nasceu Jesus Cristo
Filho da Virgem Maria
Nós vamos nos despedir
Deus ajuda quem merece
Por tudo que vós nos deu
Santo Natal lhe agradece
Ba noite, meus senhores
Que a barra do dia aí vem
Me despeço deste Terno
Até pro ano que vem
Boa noite, meus senhores
Que nos vamos arretirar
A noite já está pequena
Ainda vamos caminhar
Meu senhor dono da casa
Licença queira nos dar
O conjunto deste Terno
Precisa se retirar
Fecho minha gaita
Em nome de Nossa Senhora
Levando meus companheiros
E também me vou embora
Me despeço e vou-me embora
Seguirei por bom caminho
Deus do Céu lhe dê saúde
P'ra criar os seus filhinhos
O meu Terno se depsede
De todo o povo de casa
Quero partir e não posso
Olhos de lágrima me arrasa
O meu Terno se despede
Está na hora da saída
É alegre uma chegada
É tão triste uma partida
Os galos estão cantando
Os passarinhos também
O meu Terno se despede
Até o ano que vem
Fonte: http://www.paginadogaucho.com.br/
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