24/11/2012

As pessoas passam mas a história e os causos ficam para posteridade veja mais um relato do escritor Tupanciretanense Moisés Menezes

FILHOS DE TUPANCIRETÃ

     A história da humanidade e as práticas sociais de um povo sempre estiveram intrinsecamente marcadas e vinculadas à memória. Assim, a oralidade contribui para documentar o mundo, suas mensagens, suas experiências de vivências através de narrativas repetidas e mnemonicamente apreendidas. Na atualidade sociólogos, antropólogos e literatos reconhecem o caráter intelectual e a importância das narrativas orais.
Para João Tedesco, se faz fundamental a reconstituição da memória, porque a sociedade da informação, da técnica e da racionalidade econômico-consumista faz o tempo andar mais rápido, permite dar funcionalidades diversas aos espaços e às coisas; os objetos perdem significados mais depressa, têm reduzido seu tempo de duração e significação. 
    Segundo Alfredo Bosi, quando uma sociedade esvazia seu tempo de experiências significativas, empurrando-o para a margem, a lembrança de tempos melhores se converte num sucedâneo da vida. E a vida atual só parece significar se ela recolher de outra época o alento. O vínculo com outra época, a consciência de ter suportado, compreendido muita coisa, traz para o ancião alegria e uma ocasião de mostrar sua competência. Sua vida ganha uma finalidade se encontrar ouvidos atentos, ressonância.
Alinhado a preservação resgate da memória, o grupo "Filhos de Tupanciretã-RS" foi criado no mês de novembro de 2011, por Pércio Augusto Mardini Farias, como sugestão de seu filho Pércio. Um dos principais objetivos desta criação foi a grande possibilidade de várias gerações de Tupanciretã resgatarem as suas amizades usando esta nova maravilha do mundo pós-moderno que é o facebook. Apresentarem seus filhos e seus antepassados para as novas gerações de Tupanciretã. Postarem fotos antigas e atuais de Tupanciretã. Os desdobramentos destas novas amizades podem resultar em novos fatos como a possível criação de um Museu Virtual, estimulando o lado cultural deste lindo lugar do mundo. Negócios com inovações poderão também surgir neste novo e fabuloso mundo globalizado. No dia 19 de abril de 2012 o grupo já contava com 1156 participantes. No dia 02 de Julho do mesmo ano o grupo contava com 1518 participantes. No dia 30 de setembro de 2012 o grupo já contava com 1900 participantes. Hoje, dia 02 de novembro de 2012, com o Cristiano Abreu o gruo atingiu a marca de 2000 participantes.
     O livro Tupanciretã-Tempo de (In) Confidências dá vida ao Projeto Raízes da Professora Luciane Brum, dirigente Cultural da Prefeitura Municipal e como autor do livro e integrante entusiasmado do “Filho de Tupanciretã” ocorreu-me de integrar projeto e grupo e o faço a partir dos comentários dos internautas sobre nossos tipos sociais que o Pércio batizou tão bem de Folclóricos e Transeuntes suscitando uma bela roda viva de lembranças.
     O Sandro Rosa nos traz seus tipos que também são de todos e também “Filhos de Tupanciretã’ que deram colorido muito especial as ruas e a infância da gurizada.
Nasci em Tupanciretã, estudei e cresci nesta querida cidade e algumas pessoas povoam as minhas lembranças, pessoas que eu conhecia de vê-los nas ruas, mas que ainda lembro talvez, isto seja uma bobagem saudosista, mas marcaram meu imaginário infantil. Pessoas conhecidas na cidade e que, talvez, ninguém lembra e provavelmente não existam mais. Quem lembra da Amélia Gata, que vendia doces nos rodeios, carreiras e nos jogos do GEPO, da Noca, uma mulher negra, magra, alta com cabelos brancos, que morava atrás do GEPO e que caminhava todas as manhãs e finais de tarde, no mesmo horário, com os braços cruzados, sempre no mesmo trajeto, ia até a esquina do Cine Rei e retornava e ninguém mexia com ela de medo que tinham, do Maurício, negro velho, casado com a Josefina, que vivia bêbado cantando na rua, do Mixuim, do Eloí afiador de faca, que andava de casa em casa pedindo para afiar facas e tesouras, da Antônia, uma baixinha que andava, sempre com uma enxada nas mãos e com um saco nas costas, e ficava furiosa quando a chamavam de velha do saco, do Adão Cabeça fazendo Jogo do Bicho, da Carioca que também andava de casa em casa fazendo o jogo do bicho, do Joãozinho, um moreno alto que cortava seus dedos e andava pela rua pedindo cachaça, morava na Vila Operária, do Noé (Noé Sapo) que vendia verduras numa carroça, e passava aos gritos na rua oferecendo seus produtos, entre tantos outros...
O Odilon Avilla Santos diz:
Sandro Rosa! Faz 57 anos, que deixei nossa amada terra Tupan, e lembro-me como se fosse hoje da Amélia Gata, que vendia pastéis na Viação Férrea, qdo. passava o Trem Passageiro e muitos pstéis comi dela. Recordo com saudades do meu amigo Adão Cabeça, pessoa ilustre de nossa Terra, pois, todos os domingos estavamos juntos no velho Café do Nagib. Vc. só esqueceu de uma outra gde. personalidade a Tia Daria, que moravana Rua que fazia fundos com a minha. E foi uma feliz lembrança.

A palavra está com o Luiz Eduardo Cardoso Aude:
O Adão Cabeça era torcedor fanático e simbolo do Tupan FC e não do GEPO, em dias de jogos saia pela cidade com seu famoso megafone de alumínio, vestido de rubro negro, também fazia trabalhos especiais nas camisetas dos atletas, tem muitas fotos no clube com ele. Concordo com o Dr. Caubi Maciel da Nóbrega, quando escrevia para o semanário fiz uma reportagem sobre esse fato, ADÃO NUNES DE MORAES o pioneiro do corte INDIO MOICANO.
Nos jogos fora (época era jogos casado principal com juvenil na primeira fase), nós mentia para a galera adversária que o Adão Cabeça era realmente descendente dos INDIOS MOICANOS (veio para o Brasil, conheceu uma passista e ficou), ae a gurizada ia conferi, como o Adão beliscava umas e falava rapido e enrolado, eles acreditavam.......
...
Volta o Odilon Avilla: 
Tive o maior prazer de conhecê-lo e sempre estávamos nas rodas em Tupan, era gremista e trabalhista doente, cito sem medo de erro, que foi o maior cabo eleitoral do Dep. Mariano Becher, filho de Tupan. Tivemos um gde. colega de nome Luiz Gomes de Oliveira, hoje Cel. da BM (inativo), que qdo. moleque fazia parte de nossas rodas. Foi gde. amigo do Cabeça. Qdo. o cabeça, encontrava meu irmão Annes, perguntava sempre de mim (odillon). Então, qdo. vi essa foto fiquei emocionado, por ver uma foto de pessoas que vivemos juntos por muitos anos não é qualquer um que resiste. Ainda, mais seres humanos como foi "Adão Cabeça". Lembrei-me de quantas e quantas vezes nos cruzamos pelas ruas de Tupan, isso até 56, quando deixei minha cidade.

Complementa o Luiz Eduardo Cardoso Aude:
O Adão Cabeça tinha uma rivalidade interna com o Manoel no Tupan FC, quando o Tupan FC ganhava os dois queriam a autoria do trabalho, e quando perdia era trabalho de outro (Seus Pai de Santo não se cruzavam).


O Odilon Avilla dá um fecho sobre o Cabeça::
Meus conterrâneos, confirmo tudo o que disseram a respeito do Cabeça, foi um ser humano fora de série e tive a honra de ser seu amigo, e aos finais de semana após o futebol estávamos juntos no velho Café do Nagib. Foi um dos maiores Brizolistas e gremista, que conheci. Ainda, comungávamos de ideais, pois, sou gremista e Getulista, desde criança. E tive a honra de estar ao lado do Brizola, no Piratini, por ocasião da Legalidade.! O Cabeça, faz parte da história de Tupan! 

Outra personagem vem com o Jorge Rodriguez:
No meu tempo de moleque fui vizinho da Otília Peixoto que morava lá na Pedreira da Prefeitura, não tinha cara pra bons amigos, a gente enticava com ela e a mesma ficava furiosa. Certa feita tinha sumido ninguém via mais ela na rua. Fomos espiar na casa dela e ela tinha morrido já alguns dias estava deitada na cama e seu corpo em decomposição., A respeito da Noca lá da Moraes ela tinha um filho que ninguém citou aqui o famoso João Pé no Chão. Assim como ela vinha lá da Moraes passava ao lado do GEPO vinha pela Vaz Ferreira até o cinema e sem dizer uma palavra dava meia volta e voltava pelo mesmo caminho só que o João não dizia uma palavra mas era lucido. Se puxassem conversa com ele os assuntos eram de fundamentos, dizem que teve uma decepção amorosa e que lia muito, por isso ficou assim mas dava gosto falar com ele.


O Moisés Menezes lembra;
A Otília na minha Infância morava na Oswaldo Cruz, uma quadra abaixo da casa do se Cantarelli. Tinha uma terreira e ao lado seu marido, João Hilário, tinha um bolicho. Eram de Quevedos, descendentes de escravos que vieram de São Paulo e Paraná com as famílias dos pioneiros. Os eram domadores de mulas que depois eram comercializadas na feira de Sorocaba.
Me queria muito bem pois seguidamente me pedia para ler algo que não entendia o que fazia com naturalidade granjeando com isso a simpatia dela.
O assunto traz à roda a figura dinâmica do ex vereador Justino,o Galo Fino e o Cidico diz:

-Hoje o Galo está meio passado, mas foi vereador por muitos anos e quando o vereador não ganhava nenhum tostão. Trabalhavam para o bem do município. Um voluntário. Hoje ganham muito, tiram dezenas de diárias e não fazem nada. Ele teve muitos méritos.


O Jorge Azeredo complementa:
-Coitado do Galo! Tem até um fato curioso com ele certa feita foram lá no Concórdia e queriam falar com ele o mesmo estava lá embaixo jantando e por ironia era servido galeto...perguntaram onde está o galo fino esta lá embaixo comendo uma galinha.....imaginem o mal estar que deu.


O Fernando Nonnenmacher fala:
-E creio que foi o mais atuante vereador que Tupanciretã ja teve, no sentido de ação, fiscalizava, ia onde tinha que ir, providenciava, se mexia para conseguir. E não viajava muito não.
A Mara Nascimento:
Esse é meu pai....Achei, até que enfim! Achei que ia virar esse grupo e não ver a foto do Galo Véio....É verdade mesmo, trabalhou muito por este povo...


O Lima Jeferson:
Desculpe a intromissão, mas bahhh! O meu tio Justino vulgo Galo, ai também !!!!!!! Poxa que legal!!!! Obrigado por este momento.

Sobre o João Louco o Roger Soares lembra:
-Havia também um maluco caminhador chamado "João Louco" que era da Igrejinha e tinha um olho branco; era protegido do Sr. Ernestinho Lampert assim como o Nininho, e também do meu avô, eles gostavam de ajudar estas pessoas. Soube que o João morreu atingido por um raio lá pras bandas da Igrejinha dos Quevedos. O João Louco costumava chamar os jovens (14/15 anos) de Padinho, e eles agradeciam de contentamento .

E complementa a Carmem Berwanger
-O João Louco que chamava todos de "meu padrinho, minha madrinha, também era frequentador da casa de meu pai, Ernesto Lampert.
Volta o Roger Soares:
-O João Louco era quem fazia a gente ser adulto, porque como disse a Professora Carmem no momento que ele começava a chamar a gente de "Padinho" era porque já éramos gente grande, na época de guri todo mundo ficava torcendo para ser padrinho do João porque todos queríamos ser adultos mesmo com 14/15 anos de idade.
O Nininho aparece pela narrativa do Jorge Coimbra:
-Lembro muito bem do Nininho nas esquinas, cantando e "organizando" o trânsito de Tupanciretã... Ele tinha verdadeira fixação por guarda de trânsito. Até capacete ele tinha, mas (nem imagino porque) "morria de medo" da polícia... E, apesar de folclórico e divertido, às vezes ele passava dos limites e ficava inconveniente. Nesses momentos bastava abrir a caixa do contador de luz, fingir que estava telefonando e dizer:
- Alô, é da polícia? Vocês podem vir buscar o Nininho aqui em casa que ele está incomodan......Não dava tempo de terminar a frase e ele já estava lá na outra esquina.


O João Antônio lembra:
Em frente a casa que eu morava na vila Beck, o Nininho passava cantando. "Vai com Terra e vai com tudo e vai com a "fia" do Marcial".. chacoalhava uma latinha cheia de bolitas dentro. Bons tempos, do Joao Louco eu tinha medo, ele andava sempre com as bombachas arremangadas, tinha um olho branco e um relho e corria mais que nós, guris naquela época. Saudades.


Carmem Berwanger traz importante contribuição:
Meu pai muito recolheu o Nininho das ruas e levava para casa dele,dava banho, alimento ,vestia e levava para fazenda onde ele resistia alguns dias sem bebida, éntão fugia regressando para as ruas de Tupanciretã. Pacienciosamente e no anonimato, meu pai repetiu esse gesto inúmeras vezes. Quando o Nininho estava no presídio em Júlio de Castilhos, recebia a visita diária de Seu Ernesto. Assim foi até seu fim. Era costume de muitas pessoas ,em Tupã, chamarem meu pai quando viam o Nininho caido ,machucado ,às vezes quase morto. Após a recuperação, como sempre, fugia e retornava dançando embriagado e cantando : " Agora vai com Lampa e tudo "querendo dizer que nem o Lampert o segurava. Tinha versos sobre seu Marcial Terra , políticos como João Gularte, Neuza Brizola..... Sempre com sua gaitinha de boca . Ele jurava que era guarda de transito. Só sobre ele da um belo capítulo de livro...

Fala o Jorge Azeredo:
Tinha a Imbraina e a Carolina filhas de uma senhora que não lembro o nome lá na Pedreira da Prefeitura a gente cantava assim..
-.ai ai ai as pernas da Carolina não são grossa e nem são fina
Vocês imaginem a reação dela pra molecada.
E continua:
Preciso falar de mais uma eu era moleque e na entrada da pedreira da prefeitura tinha a Nelinha uma senhora idosa e baixinha que falava com artistas da tv olhando a mesma pois me dei por conta certa vez que eu tinha 40 anos e a Nelinha continuava do mesmo jeito pois tiveram a capacidade de se apoderar até do cantinho dela na entrada da pedreira isto que ela sempre morou lá. Até benzimento .Fazia fez parte da minha infância a Nelinha.


Moisés Menezes

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