CARRETEADAS
“Roda, roda, roda carreta
Roda lá pro fim do mundo
Roda, roda, roda carreta
Roda que nós vamos juntos
O boi da ponta é o destino
Companheiro do esperança
O boi Brasil é o desejo
Parelha do coração
Bem perto do carreteiro
É o boi desengano e o boi ilusão “
(Roda Carreta-Paulo Ruschel)
Chamado “Boeiro” em Portugal, “carreta” nos pampas gaúchos e “cambona” em algumas regiões do interior do Brasil, o carro de boi já era conhecido dos chineses e hindus. Também os egípcios, babilônios, hebreus e fenícios utilizavam o transporte “via bois”. Mais tarde, os europeus, quando se lançaram à colonização da África e da América, fizeram do boi um item indispensável da carga das caravelas.
No início do século XVI, o carro de bois era ainda absoluto no transporte de carga e de gente. No Sul, no Centro, no Nordeste, era indispensável nas fazendas. No Rio Grande do Sul, as carretas conduziam para a Argentina e para o Uruguai a produção agrícola.
San Martin, Garibaldi e a Campanha do Paraguai deram contornos épicos a história das carretas e dos carros de boi no sul da América. Também foram eternizadas no célebre Monumento ao Carreteiro de Montevideo e na obra La carreta de Enrique Amorim, obra prima do romance latino-americano.
Convivi muito na infância com uma boa parte dos carreteiros de Quevedos, que vinham a Tupã vender lenha, ovos, galinhas e outros produtos coloniais em viagens que duravam em média de 4 a 5 dias entre ida, venda dos produtos e a volta. Inclusive fiz algumas viagens junto com meus tios que durante algum tempo fizeram esse trajeto.
Uma vez vínhamos para Tupã com uns 4 ou 5 carros de bois, o Erni da Rosa, o tio Ni, que mora na Gen. Osorio há muito tempo, o Modesto, já falecido, o Licério, o Goulart, o Niltão Nágera e mais uns que não lembro. Era uma noite muito fria e o Modesto que vinha no carro detrás se queixou do frio e que vinha sozinho.
O Ni falou para ele:
-Vem aqui pra frente e deixa que os bois venham sozinhos com o teu carro. Eles vêm seguindo os outros. De fato vieram até um trecho, mas deixa estar que lá pelas tantas demos falta do tal carro detrás. Fomos encontrar já dia claro. Carro e bois se recostaram e ficaram pastando calmamente.
Doutra feita o Ni e quase a mesma turma deram uma carona para o Dom Tito, um baixinho que morava no Paredão, e era muito garganta, mas gente muito boa.
No pouso, no Aguapé ou nas Lontras, o NI e o Licério saíram de revólver e disseram que iam dar uma batida, pois a região era cheia de ladrões de gado e não queriam ter surpresas desagradáveis, que ele ficasse no acampamento pois não havia revólver para todos.
A noite era muito escura e logo depois, próximo a um capão de mato começaram a atirar para cima, bater facões e a gritar como se fosse uma peleia.
Do tal capão conseguiam ouvir o Dom Tito gritando:
-Que barbaridade! Meus companheiros debaixo do mau tempo e eu aqui, sem poder ajudar. Que barbaridade!
Voltaram alguns minutos depois com cara de cachorro que lambeu graxa, contando as proezas do confronto. O Dom Tito acreditava, era de boa fé e eles experimentados em aprontar.
A melhor de todas aconteceu numa outra viagem que casualmente também o Dom Tito veio de carona e em razão daquele confronto anterior em que assustaram muito o caroneiro, resolveram dar um facão a ele que vinha sozinho no último carro, para que se defendesse numa precisão.
Numa volta da estrada, um deles se escondeu no cemitério e deixando os demais carros passarem, veio envolto num capotão com os braços levantados na direção do último. Previam que o Dom Tito se assustasse e isso não ocorreu.
O vulto avançava devagar e o Dom Tito foi falando:
- Que é isso? Que é que tu quer?
A assombração avançava quieta e não falava.
Então o Dom Tito passou a mão no facão e quando o vulto chegou perto, soltou de prancha no meio da testa.
Quase matou o Licério.
(Do livro-Tempo de (In)Confidências-no prelo
“Roda, roda, roda carreta
Roda lá pro fim do mundo
Roda, roda, roda carreta
Roda que nós vamos juntos
O boi da ponta é o destino
Companheiro do esperança
O boi Brasil é o desejo
Parelha do coração
Bem perto do carreteiro
É o boi desengano e o boi ilusão “
(Roda Carreta-Paulo Ruschel)
Chamado “Boeiro” em Portugal, “carreta” nos pampas gaúchos e “cambona” em algumas regiões do interior do Brasil, o carro de boi já era conhecido dos chineses e hindus. Também os egípcios, babilônios, hebreus e fenícios utilizavam o transporte “via bois”. Mais tarde, os europeus, quando se lançaram à colonização da África e da América, fizeram do boi um item indispensável da carga das caravelas.
No início do século XVI, o carro de bois era ainda absoluto no transporte de carga e de gente. No Sul, no Centro, no Nordeste, era indispensável nas fazendas. No Rio Grande do Sul, as carretas conduziam para a Argentina e para o Uruguai a produção agrícola.
San Martin, Garibaldi e a Campanha do Paraguai deram contornos épicos a história das carretas e dos carros de boi no sul da América. Também foram eternizadas no célebre Monumento ao Carreteiro de Montevideo e na obra La carreta de Enrique Amorim, obra prima do romance latino-americano.
Convivi muito na infância com uma boa parte dos carreteiros de Quevedos, que vinham a Tupã vender lenha, ovos, galinhas e outros produtos coloniais em viagens que duravam em média de 4 a 5 dias entre ida, venda dos produtos e a volta. Inclusive fiz algumas viagens junto com meus tios que durante algum tempo fizeram esse trajeto.
Uma vez vínhamos para Tupã com uns 4 ou 5 carros de bois, o Erni da Rosa, o tio Ni, que mora na Gen. Osorio há muito tempo, o Modesto, já falecido, o Licério, o Goulart, o Niltão Nágera e mais uns que não lembro. Era uma noite muito fria e o Modesto que vinha no carro detrás se queixou do frio e que vinha sozinho.
O Ni falou para ele:
-Vem aqui pra frente e deixa que os bois venham sozinhos com o teu carro. Eles vêm seguindo os outros. De fato vieram até um trecho, mas deixa estar que lá pelas tantas demos falta do tal carro detrás. Fomos encontrar já dia claro. Carro e bois se recostaram e ficaram pastando calmamente.
Doutra feita o Ni e quase a mesma turma deram uma carona para o Dom Tito, um baixinho que morava no Paredão, e era muito garganta, mas gente muito boa.
No pouso, no Aguapé ou nas Lontras, o NI e o Licério saíram de revólver e disseram que iam dar uma batida, pois a região era cheia de ladrões de gado e não queriam ter surpresas desagradáveis, que ele ficasse no acampamento pois não havia revólver para todos.
A noite era muito escura e logo depois, próximo a um capão de mato começaram a atirar para cima, bater facões e a gritar como se fosse uma peleia.
Do tal capão conseguiam ouvir o Dom Tito gritando:
-Que barbaridade! Meus companheiros debaixo do mau tempo e eu aqui, sem poder ajudar. Que barbaridade!
Voltaram alguns minutos depois com cara de cachorro que lambeu graxa, contando as proezas do confronto. O Dom Tito acreditava, era de boa fé e eles experimentados em aprontar.
A melhor de todas aconteceu numa outra viagem que casualmente também o Dom Tito veio de carona e em razão daquele confronto anterior em que assustaram muito o caroneiro, resolveram dar um facão a ele que vinha sozinho no último carro, para que se defendesse numa precisão.
Numa volta da estrada, um deles se escondeu no cemitério e deixando os demais carros passarem, veio envolto num capotão com os braços levantados na direção do último. Previam que o Dom Tito se assustasse e isso não ocorreu.
O vulto avançava devagar e o Dom Tito foi falando:
- Que é isso? Que é que tu quer?
A assombração avançava quieta e não falava.
Então o Dom Tito passou a mão no facão e quando o vulto chegou perto, soltou de prancha no meio da testa.
Quase matou o Licério.
(Do livro-Tempo de (In)Confidências-no prelo
Hoje, corrigindo o Boneco do livro,lançamento previsto para dia 21/12 às 20h na Casa de Cultura José Mariano Beck,na Terra da Mãe de Deus!!!!!!
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