25/03/2016

LAGARTUS HISTÓRICO - SÃO PEDRO DO TUJA - ESTANCIA JESUÍTICA ENTRE TUPANCIRETÃ E JULIO DE CASTILHOS

    SÃO PEDRO TUJÁ OU SÃO PEDRO DO TARUMÃ – pequena história de uma antiga estância jesuítica

    Depois do ataque do bandeirante Raposo Tavares às aldeias que os jesuítas haviam formado lá por perto de Rio Pardo, os padres viram que não poderiam enfrentá-lo e resolveram levar o povo para a aldeia de Natividade (atual Pinhal Grande). Antes disso, levaram o gado de uma das aldeias não atacadas para lá, onde alimentariam os índios que, fugindo, passassem para Natividade. Essa “reserva” de 300 reses ficariam em um rincão de campo cercado de matas (atual Fazenda da Reserva). 
   No entanto, com a situação de temor constante e boatos das fantásticas cenas de selvageria dos bandeirantes, os jesuítas levaram, em 1638, todos os índios aldeados, para o outro lado do Rio Uruguai. Muitos animais de Natividade e da “reserva” foram ficando pelo caminho nessa apressada fuga. O “Rio Grande” virou, praticamente, um deserto e esse gado, por cinquenta anos, foi-se reproduzindo livremente. 
   Quando, passado o temor, os jesuítas voltaram e estabeleceram os Sete Povos das Missões, reuniram, entre 1660 a 90, esse gado selvagem (gado alçado ou chimarrão), em diversas e enormes estâncias. Uma delas, era a Estância de São Pedro pertencente ao Povo de São Lourenço, que tinha vários “postos” e uma sede. Essa sede, que seria chamada de Guarda (espanhola) de São Pedro, estaria hoje no atual Município de Tupanciretã, a duas léguas e um quarto dessa cidade.
   A enorme Estância de São Pedro ficava em terras entre Júlio de Castilhos e Tupanciretã. A sede ficava nas proximidades do nosso Aeroporto Intermunicipal e foi a antiga e conhecida Fazenda São Pedro do Tarumã, hoje Agropecuária Tarumã. É incrível o tamanho dessa estância jesuítica de São Pedro. Para ter-se uma pálida ideia basta dizer que seu primeiro Posto, o de Santa Maria, (que os índios chamavam de “tupaceretã”), ficava na atual cidade de Tupanciretã e ia até proximidade de São Martinho da Serra! 
    Em 1787, um geógrafo e astrônomo do reino português deixou-nos uma descrição de como seria essa sede da Estância (jesuítica) de São Pedro:

Eram “aprazíveis e amenos esses campos” que para leste caem para uma nascente do Arroio Tipiaia (Buracos). Os ranchos eram de paredes de pau-a-pique feitas com barro amassado e cobertos de capim. Tinha uma pequenina capela caiada com aproximadamente três metros por quatro e um prolongamento onde, provavelmente, seria um altar para esta imagem de São Pedro, de madeira, peça da estatuária missioneira. Nesta capela, os índios “faziam suas cantadas rezas acompanhadas de tambores, “violas ou flautins, como as gaitas dos pastores”. Existiam, nas vizinhanças dessa sede, capões de pessegueiros plantados pelos jesuítas (os durasnais). 
    O gado era abundante. Cavalhada e manadas de ovelhas. Era dessa estância que eram fornecidas as reses para o consumo da Guarda (espanhola) de São Martinho (atual São Martinho da Serra), pois eram facilmente transportadas para lá. Quase todos os cavalos eram “de corpo diminuto e não admiram de gordos, tal é a falta de pastos pouco impregnados de sal vegetal da natureza. Os cavalos lambem-se uns aos outros quando suados e são também lambidos pelos carneiros”. 
    Para efetivar o Tratado de Madri, em 1° de maio de 1756, o exército português comandado pelo Gen. Gomes Freire de Andrade, encarregado por Portugal de demarcar a fronteira entre Portugal e Espanha, depois de atravessarem o Guaçupi no passo do Cerro ou Feio e (pelo Corredor dos Pachecos) atravessarem o Toropi; “seguiram para o campo da estância jesuítica de São Pedro Velho” aonde chegaram ao meio-dia. Seria esta, a nossa estância em foco: Estância de São Pedro Tujá.
    Essa mesma expedição e o exército espanhol, em fevereiro desse ano, já havia vencidos os índios das Missões que, considerando-se os verdadeiros donos da terra que “Dios y San Miguel” lhes havia dado; tentaram impedir a continuidade da demarcação, nas proximidades de São Gabriel. Naqueles combates, morreu Sepé Tiarajú e no outro dia, em apenas uma hora, mais uns 1400 guaranis foram dizimados!
   Além dos dois exércitos, passaram por essa Guarda de São Pedro, “mais de 100 carretas, a artilharia, os carros da pólvora, dos apetrechos e das munições”!
   Em agosto de 1801, José Borges do Canto e seus companheiros seguiram o mesmo caminho daqueles demarcadores e aproveitando o rigoroso frio e a escuridão, chegaram à Guarda de São Pedro e a atacaram de surpresa. O Comandante espanhol e 30 índios não tiveram tempo de pegar em armas e se entregaram sem resistência. Gabriel de Almeida que falava o guarani convenceu os índios de que “a guerra era só com os espanhóis e não com eles” e conseguiu que aderissem a eles. E, acabaram conquistando os Sete Povos das Missões para os portugueses. Apenas levaram o comandante preso e mais cavalos. No lugar “havia mais de mil animais cavalares e vacuns”.

   Essa é a imagem mais antiga da Estância São Pedro Tujá. Talvez o prédio baixo à esquerda tenha sido a primitiva casa-seda da Guarda de São Pedro

   A antiga Guarda de São Pedro ficava, em 1806, nas terras de Agostinho Soares da Silva, um descendente de açorianos nascido em Triunfo. Ele teria obtido essa Sesmaria de São Pedro Tujá nesse ano e faleceu, em 1848 aí nessa Estância de São Pedro. Seus nove filhos teriam vendido a parte que incluía a sede, ao Cel. Raphael de Oliveira Mello, do Rincão dos Mellos. 




Nessa foto antiga, aparece a casa e a tropilha de cavalos oveiros do Cel. Raphael de Oliveira Mello. (Essa mesma casa teria sido demolida para construir a atual sede da Fazenda). 

Em 1914, o filho do Cel. Raphael, Raphael de Oliveira Mello F° (conhecido como Tenentinho), herdou a fazenda que, em 1950, com sua morte, passou a Tarcil Castilhos Mello e, mais tarde, às suas irmãs.

Foram esses os primeiros donos dessa propriedade.


ARQUEOLOGIA CAMPEIRA
por: Firmino Costa

    O Prof. Noilson Mello convidou-me para observar vestígios de construção antiga que ele achava que era do tempo dos jesuítas. Eram restos de taipas de pedra pelo campo nas proximidades do Aeroporto Intermunicipal Júlio de Castilhos -Tupanciretã. Pela estrada para a atual fazenda, passando a cabeceira da pista, eles estão à direita São segmentos fragmentados de taipa de pedras, retilíneos e com cerca de 120 metros.
Na sombra são cobertos de musgos. Mostrou-me também que junto a esses vestígios havia uma planta espinhosa com frutos amarelos semelhante a planta de abacaxi. Ele diz que a planta é de origem mexicana
, chamada Guayrama. Seus frutos comestíveis sabem a butiá, são saborosos, ricos em vitamina C, que os antigos usavam como remédio expetorante e para tosse. Elas seriam plantadas, talvez, pelos jesuítas. De lá teriam saído sementes plantadas em diversos lugares antigos da região contatei com o Dr. Silvio Correa de Mello, filho de Tarcil Correa Mello. Ele disse que conhecia aqueles sinais. Que eram restos de taipa de um antigo mangueirão do tempo dos jesuítas de São Pedro Tujá. Que dessa estrutura, parte era pedra e parte fosso cavado no campo que ele conheceu e não mais existem. Que conheceu os alicerces da antiga capela. Que ela ficava abaixo do açude, descendo dele, à direita da ponta do mato, e foi ele quem sugeriu aquelas dimensões Uma tia paterna de Silvio, Cory Castilhos Mello falecida em 1981, disse que conheceu a capela já em ruinas. Que a imagem de madeira e seu pai, Raphael de Oliveira Mello F°, a levou para a Ermida dos Alvarengas. Hoje é acervo do Dr. Aparício Correa de Barros. É essa pequena historia que apresentamos a nossos leitores

Colaboração histórica: Firmino Costa - Julio de Castilhos

Mais algumas imagens do local:
 Estrada para esquerda Tupanciretã - para direita Julio de Castilhos





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