18/04/2017

O TUPANCIRETANENSE RAUL BOPP FOI UM TRÊS CRIADORES DO MOVIMENTO DE ANTROPOFAGIA NO BRASIL EM 1924


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Raul Bopp, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade inspirador no quadro "Abaporu" (antropófago em Tupi

Há muitos escritos (relatos, livros, anotações, artigos, ensaios etc.) que possuem valor histórico e alta expressividade não porque são “estudos definitivos” – nenhum é, na verdade – sobre um tema ou porque abarcam uma quantidade ampla de informações e questões, mas sim porque foram produzidos, como se costuma dizer, “no calor da refrega”. Tal origem lhes outorga características que não são passíveis de ser reproduzidas posteriormente, justamente pelo caráter imediato e sui generis da experiência que lhe ensejou. O livro Movimentos modernistas no Brasil – 1922-1928, escrito por Raul Bopp, “se encaixa” precisamente nessa categoria.

Antes de um corpo ramificado de acordo com as diferentes orientações textuais e epistemológicas que comumente enformam textos de não-ficção, o livro de Raul Bopp valoriza a captação da expressividade de imediato, motivo pelo qual se divide em subtítulos referentes ao que ele viu ou experimentou e achou digno de nota. Como personagem cuja ligação com os movimentos modernistas se dá em primeira instância, Bopp nos oferece uma visão diretamente vivida por ele, o que, na minha opinião, enche o texto de um vigor peculiar.

Além de, digamos assim, relator, Raul Bopp também teve seu quinhão de protagonismo no movimento modernista, participando de saraus, almoço, tertúlias literárias e de momentos antológicos dele, como quando da definição dos nomes de suas vanguardas, sua influência européia, seus intentos de renovação das artes, da linguagem e também da célebre Semana de 22, evento capital do modernismo brasileiro.

Como testemunha disso tudo, Bopp ganha uma grande solidez. Ele optou por dividir seus relatos em subtítulos curtinhos, quase notas jornalísticas mesmo, nos quais relata desde as características do modernismo brasileiro, explorando desde seus temas e questões até os nomes e personagens envolvidos neles. Além disso, pelo caráter de relato, suas notas possuem um tom de diário em alguns momentos, principalmente quando fala das pitorescas peripécias de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e outros.

Bopp viveu e conversou com tais pessoas, ele esteve presente nas apresentações de Heitor Villa-Lobos, presenciou a declamação de Os Sapos e o furor que ela causou. Precisamente por conta disso que a pujança de seu livro é tamanha, e por isso é que nos põe em contato de modo tão familiar com eventos que conhecemos em sua faceta canônica.

Além dessas qualidades, o livro ainda traz explorações estilísticas do próprio autor com relação a sua obra mais famosa, Cobra Norato (1931), onde ele junta mais uma porção de fragmentos mitológicos e bucólicos, resultantes de sua viagem à região Amazônica, para nos fazer pôr a par de uma compreensão maior do poema, dando-nos a possibilidade sinestésica de fruí-lo com ainda mais intensidade.

O amplo diálogo com as raízes mitológicas da “brasilidade”, promovido tanto por Bopp como pelos demais modernistas, ganha novas cores e, pela sagacidade do autor, aparece aqui como uma peça de um quebra-cabeça cujas dimensões extrapolam sua “natureza” literária e sua pretensa limitação patriótica. Apesar das influências das vanguardas europeias, uma das peculiaridades brasileiras se manifesta na maneira insólita com que o passado de lendas e mitologias se encontram com o presente no palco das artes. Cobra Norato é um belo exemplo disso, mas bem poderíamos citar diversos quadros de Tarsila do Amaral e mesmo a opus magnus de Mário de Andrade, o pitoresco Macunaíma, como outros possíveis.

Mais do que uma renovação exclusivamente estética, que se restringiu à forma, há um repensar das questões, de seu estatuto e, algo muito importante a meu ver, da função ou do papel das artes diante da sociedade e das grandes questões de seu tempo. O escopo é variado e ambicioso, tanto para quem o procurou levar a cabo quanto para aqueles que intentam compreendê-lo em perspectiva histórica ou em outros campos do conhecimento. De uma forma ou de outra, a senda trilhada por Bopp em Movimentos modernistas no Brasil – 1922-1928 é uma ótima maneira de iniciar a jornada
Fonte: http://www.posfacio.com.br


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