11/09/2019

COOPERATIVA RURAL SERRANA TUPANCIRETÃ




Por Margarete Ludwig - novembro 07, 2018

O legado do maior frigorífico da América Latina

- Empreendimento chegou a exportar carne de Tupanciretã para o mundo-




*Wendell Pivetta
*Créditos de imagem: Luis Afonso Costa

Era meados de 1938, em Tupanciretã, no interior do Rio Grande do Sul, recebe a instalação da Cooperativa Rural Serrana. Neste empreendimento eram abatidos bovinos para comercialização de carnes. Com objetivo de abater gado no frigorífico, resfriar, congelar e comercializar. Em 1942, o Instituto de Carnes do Rio Grande do Sul lança a pedra fundamental para a construção do matadouro frigorífico que passou a ser administrado pela Serrana.
A empresa buscou ao longo dos anos um grande mercado internacional para a comercialização da carne congelada, que conquistou espaço na Europa e América do Norte. Na gestão do presidente Severo Correa de Barros, a planta frigorífica operou com mais de 1500 colaboradores.

Inúmeros foram os funcionários que trabalharam no frigorífico, que construíram suas vidas e contribuíram com a sua força física e mental para o funcionamento perfeito da empresa que cresceu perante o abraço destas famílias brasileiras e estrangeiras. Dentro desta história de glórias e desilusões, Jordão Farias fez parte desta jornada. Jordão trabalhou sua vida inteira no local. Falecido no ano de 2015, sua memória permanece viva, pois sua história foi contada ao decorrer dos anos, sempre feliz e orgulhoso de fazer parte do que foi um dia o "maior frigorífico da América Latina". Junto ao seu antigo rádio de madeira de transmissão única do sinal AM, passava suas tardes sentado em sua cama, onde o quarto ficava de frente para a rua, olhando as pessoas passarem e assim, sua vida também. Contava seus percalços, em que sofreu com o carregamento do gado pela "rampa de abate", cartão postal do frigorífico, local em que o peão fazia com que o gado fosse subindo a rampa para ser abatido. Ajustar o gado e andar ao lado para não causar paradas na travessia era tarefa árdua, muitas vezes o animal aflito acabava por chutar o peão, causando fortes hematomas e prejudicava muito a saúde. Jordão com certeza carregara sempre fortes dores na costela e perna do lado esquerdo, resquícios da função que exerceu durante anos.

Campeiro, Jordão também alçava o transporte do gado por terra, trabalhando nos arredores dos hectares da Serrana, esta que aos anos desenvolvia seu trabalho, avançando suas tarefas com a parte da pecuária e avançando seu meio de exportação, tendo uma parceria com a VARIG, estabelecendo um Áero Club com um avião refrigerado e exclusivo para o transporte da carne para outros estados Brasileiros. Por terra, os vagões de trem refrigerados aumentavam cada vez mais, tendo exportação para outros países, como a Argentina. Jordão relata que o charque era o principal meio de lucro, porém com a mudança de presidência da empresa e investimentos sem retorno, foram aos poucos tirando a Serrana do seu eixo de glória para uma crise sem fim.

Para complementar as informações sobre do legado do Frigorífico Serrana na visão de outra geração, o fotógrafo Luis Afonso Costa relata os principais momentos que registrou com as lentes. "Após o fechamento na década de 80, várias tentativas foram feitas para reativar a majestosa planta frigorífica que desde a sua inauguração muito ajudou o crescimento econômico e social dos tupanciretanenses e na visão futurista e correta do empreendedor e saudoso presidente Severo Correa de Barros”, conta o fotógrafo.

Ele completa que poderia ter um avanço por mais de 20 décadas com a industrialização da carne, mas infelizmente não foi a frente. Após o período do empreendedor Severo Correa de Barros a "Serrana" só definhou vindo o seu patrimônio a ser corroído por muitos fatores restando hoje na planta frigorifica, constatamos a existência de uma pequena parte das 600 hectares do complexo frigorifico (campos, mangueiras, matadouro, refrigeração, vagões férreo e exportação) que é propriedade do Governo do Estado do RS e que deverá, pela crise financeira atual, dar uma destinação final ao imóvel e de preferência promova algum desenvolvimento ao município de Tupanciretã.
Luís Afonso relata que já acompanhou alguns momentos dos anos 90 à 2016, e que várias tentativas foram feitas para restabelecer o empreendimento. Ele lembra de um grupo argentino que deu um início mas não avançou, depois com outro grupo empresarial local trabalhou por alguns anos recebendo incentivo de isenção de imposto para gerar empregos, porém sem sucesso. “Esta planta frigorifica era, nos anos 70, de ponta na América Latina, mas hoje não”, relata Luís Afonso.

O abandono, o descaso, a falta de manutenção da infraestrutura deixam o sonho cada vez mais utópico da comunidade de Tupanciretã em ver o maior Frigorífico da América Latina retomar as suas atividades. Restam apenas as lembranças dos bons momentos em que muitas famílias construíram suas vidas neste contexto.


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