31/03/2013

A história de um herói da II Guerra Mundial que tem uma paixão Tupanciretanense

Vejam esta matéria da Zero Hora assinada Fernanda Grabauska com foto de Ricardo Duarte do Domingo 31/03/2013 página 11 aonde Tupanciretã faz parte desta destaca matéria jornalística
                 
 Jahannes e Maria (Tupanciretanense)
Em maio de 1940, a Alemanha invade a Holanda, um ano após o início da II Guerra Mundial. Cerca de 100 mil judeus holandeses foram presos e conduzidos a campos de concentração — destes, apenas 876 sobreviveram. Muitas famílias contribuíram para que as mortes de judeus não atingissem um número ainda maior no país, arriscando-se para abrigá-los em suas casas. A família de Johannes Melis, holandês hoje radicado em Porto Alegre, foi uma delas.
Nascido em 1938, Johannes lembra de pouco até seus cinco anos:
— Por trabalhar em um órgão do governo que cuidava dos rios e canais, meu pai ganhou dos alemães um passe, uma "carteirinha de liberdade" que dava direito ao trânsito livre — conta.
Hendrikus, à época com 34 anos, preparou a casa com antecedência para receber seus hóspedes transitórios, lembrados por Johannes, carinhosamente, "como tios e tias". Especializado em mecânica, o pai construiu com perícia três abrigos escondidos dentro da casa de dois andares, que ainda resiste na cidade de Roermond, lembra Johannes:
— Nossa casa era um sobrado. O primeiro esconderijo era uma escada camuflada que levava acima do sótão. Era o maior deles. O segundo foi na despensa, que ficava embaixo da casa, onde guardávamos as batatas e as provisões para o inverno. Meu pai construiu um armário giratório. Só quem sabia como girar o armário tinha acesso à escada que levava à despensa. O esconderijo mais seguro ficava dentro da cozinha. Ele cavou um buraco embaixo da pia, podia levantar uma tampa e se esconder ali.
Com a chegada de tropas aliadas no país, a família começou os resgates. O primeiro, recorda-se Johannes, foi de um piloto canadense que caiu de paraquedas depois de ter sua aeronave alvejada por alemães. O pai apressou-se em recolher o militar e atirar seu paraquedas no rio, para dar a impressão de que o homem tinha se afogado.
Integrante de um grupo de resistência aos nazistas, não demorou muito para que Hendrikus recebesse mais soldados e pilotos, que depois recebiam auxílio para voltar a seus países de origem. Com o agravamento da guerra, logo o sobrado dos Melis ficou repleto de famílias judias. O patriarca os resgatava, um por um, em uma motocicleta. Os homens recolhidos precisavam se vestir como mulheres, lembra Johannes, para que não levantassem suspeitas ao passar de motocicleta pelos oficiais nazistas.
A liberdade foi abaixo quando, em uma ação contra a ocupação alemã, Hendrikus foi pego sabotando um navio nazista. O passe foi confiscado e o sobrado da família foi alvo de inspeções dos nazistas. Um recurso engenhoso ajudou a evitar a descoberta das famílias abrigadas: uma lâmpada foi instalada como sinal de alerta para as invasões dos oficiais, e Johannes foi instruído, junto ao irmão mais velho, a proferir a frase que salvou muitas vezes a vida dos habitantes da casa:
— Bastava eles chegarem perto, e a mãe corria para a cama, parecia ficar doente mesmo, e meu pai se escondia. Chegava a ficar com medo, mas eu e meu irmão íamos juntinhos até a porta e enfrentávamos os alemães, armados como se fossem combater outro exército.
Com a invasão dos Aliados ao país, os combates se intensificaram. Os "tios e tias" de Johannes foram levados a lugares mais seguros, e a família refugiou-se em um bunker a cerca de 500 metros da casa. As chuvas da época, mal comportadas pelo esconderijo, deixaram os Melis flutuando sobre tábuas por semanas. O estoque de alimentos minguou, e o desespero tomou conta dos pais, que viam a água potável também perto do fim:
Hendrikus contrariou a esposa ao sair para buscar água, e foi parado pelos alemães. Combinou-se que a família esperaria o exército nazista no bunker, de onde seria levada para um campo de trabalhos forçados. Mas, mais uma vez, a sorte lhes sorriu:
— Mas ele não desistiu, saiu atrás de água novamente e, dessa vez, foi salvo por soldados do exército Aliado.
Uma pintura e um amor na chegada ao Rio Grande do Sul
Os Melis foram resgatados em um caminhão e levados à cidade de Weerd, onde ficaram até o final da guerra. Hendrikus ainda se alistou para desarmar as minas terrestres da região onde vivia a família, mas, com o início da Guerra Fria, a inquietude logo tomou conta do homem:
— Ele decidiu que íamos nos mudar para a Austrália. Aprendemos inglês, mas acabamos no Brasil, em Butiá. O pai encontrou um amigo de infância, e eles tentaram fundar uma colônia holandesa, nos moldes de Holambra. Chegamos de navio ao Brasil, quando eu tinha 13 anos.
A colônia sonhada pelos imigrantes não vingou. Já em Porto Alegre e muito antes de começar a contar a história de sua infância, Johannes acumulava causos curiosos. Remador exímio, ele e o irmão foram rapidamente naturalizados brasileiros para poderem competir por clubes do Estado. Uma estante na sala de estar de sua casa deixa à mostra dezenas de troféus e medalhas ganhos em torneios. Pares de tamancos de madeira, típicos do país natal, repousam próximos a uma poltrona, lembrando da única ocasião em que Johannes retornou à pátria após a mudança para o Brasil.
Mas a curiosidade fica em torno das numerosas representações de tulipas: estão em quadros, fotos e arranjos pelo cômodo. Melis sorri e explica a recorrência das flores:
— Uma vez uma mocinha, novinha, lá do Interior, queria pintar uma tulipa, mas não sabia como era a flor. Alguém lembrava que eu era holandês e nos apresentou. E a gente começou a conversar mais, foi se conhecendo... — diz ele, entre sorrisos e logo mostra a fotografia de um vestido branco, pintado com tulipas azuis.
A "mocinha do Interior", sua mulher, Maria, pede licença e volta rapidamente com um lenço que pertenceu à sogra, emprestado por Johannes a ela quando era apenas uma professora recém-formada em Tupanciretã, em visita à amiga que os apresentou. Durante os anos que passaram, muitas outras flores foram pintadas. As paredes da casa são repletas de quadros de buquês e de árvores, a maioria feita por Maria — que já não pinta, mas conserva o mesmo entusiasmo quando o assunto são tulipas.
Agora, o sotaque de "r" puxado de Johannes ensina a solidariedade em palestras promovidas pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul para conscientizar estudantes sobre o Holocausto. Ao contrário do pai, que jamais se importou com as condecorações e homenagens que recebeu após o final da guerra, o imigrante vê na história da família uma oportunidade de reflexão:
— Meu pai nunca justificou muito demoradamente porque resolveu ajudar aqueles judeus. O que lembro que ele sempre dizia era isso: Deus é o mesmo para todos.
O homem que pedalou pela vida dos outros
Léo Gerchmann
Assim como Hendrikus Melis foi um valente na Holanda, Gino Bartali se tornou herói na Itália. Um herói da Itália e da humanidade. Não porque ostentasse a fachada de atleta modelo do fascismo sob o regime de Benito Mussolini, como acreditavam seus contemporâneos naqueles sombrios anos 1940. Seu heroísmo se deu pelo motivo oposto, soube-se muitos anos depois. Bartali, um Pelé do ciclismo italiano, eternizou-se como agente antifascista, que, indiferente ao fato de a Itália estar atolada no Eixo ao lado da Alemanha nazista, deu abrigo a famílias judias e transportou, no quadro da sua bicicleta, identidades falsas que salvaram a vida de centenas de judeus.
Conhecido como o Leão da Toscana por sua fibra física e emocional especialmente nos momentos adversos, o ciclista, três vezes campeão do Giro d'Itália (1936, 1937 e 1946) e duas vencedor do Tour de France (em 1938 e 1948), pedalava sua bicicleta em um persistente treinamento para competições suspensas devido ao conflito mundial.
Ninguém entendia tanto esforço supostamente em vão.
O livro que fez justiça
O fato é que Bartali, protegido pela fama de ídolo nacional, levava incólumes, de um lado para outro, documentos que salvaram perseguidos pelo horror. Arriscava sua vida, a vida da sua família e a reputação, em uma história que se tornou conhecida depois que ele morreu pelo livro O Leão da Toscana, recentemente lançado no Brasil.
Com descrições de cenas de forte dramatismo, os autores do livro, os irmãos canadenses Aili McConnon e Andres McConnon, retratam uma época em que o heroísmo implicava grande risco. Um risco assumido por setores da Igreja que convenceram o já antifascista Bartali a ser muito mais que um ídolo movido a pedais sobre duas rodas.
Este momento, em especial, emociona: Bartali é chamado por um antigo amigo, o cardeal Elia Dalla Costa, cotado à época para ser o sucessor do papa Pio XI. Antifascista visceral, Dalla Costa pediu que Bartali o ajudasse na tarefa de salvar judeus das garras de Hitler e Mussolini. "Esses refugiados precisavam de comida, abrigo e documentos falsos de identidade, explicou o cardeal, e ele queria que Gino o ajudasse, atuando como mensageiro da rede, entregando documentos e executando outras tarefas na Toscana e arredores". (...) "Se alguém conhecia aquelas estradas e tinha álibi plausível para nelas estar, esse alguém era Gino Bartali". E continua o livro: "O perigo desse trabalho, no entanto, era inelutável. Dalla Costa foi explícito. Se fosse capturado auxiliando judeus, havia a possibilidade real de que os alemães o prendessem, o executassem no ato ou o mandassem para algum campo de concentração (...)".
Bartali, por motivo de segurança, teria de esconder a missão que assumira até mesmo de sua mulher, Adriana. Certa vez, ela perguntou: "Por que você está treinando, se não tem nenhuma corrida programada?" "Gino parou de se arrumar e se aproximou da mulher. 'Estou só treinando', respondeu, inclinando-se para dar um beijo tranquilo na testa (...)". "Gino queria estar pronto para quando as corridas recomeçassem" — essa era a alegação que ele usava.
Legenda: Johannes Melis, 75 anos, vive hoje em Porto Alegre com Maria, sua mulher, e três filhos
maio de 1940, a Alemanha invade a Holanda, um ano após o início da II Guerra Mundial. Cerca de 100 mil judeus holandeses foram presos e conduzidos a campos de concentração — destes, apenas 876 sobreviveram. Muitas famílias contribuíram para que as mortes de judeus não atingissem um número ainda maior no país, arriscando-se para abrigá-los em suas casas. A família de Johannes Melis, holandês hoje radicado em Porto Alegre, foi uma delas.
Nascido em 1938, Johannes lembra de pouco até seus cinco anos:
— Por trabalhar em um órgão do governo que cuidava dos rios e canais, meu pai ganhou dos alemães um passe, uma "carteirinha de liberdade" que dava direito ao trânsito livre — conta.
Hendrikus, à época com 34 anos, preparou a casa com antecedência para receber seus hóspedes transitórios, lembrados por Johannes, carinhosamente, "como tios e tias". Especializado em mecânica, o pai construiu com perícia três abrigos escondidos dentro da casa de dois andares, que ainda resiste na cidade de Roermond, lembra Johannes:
— Nossa casa era um sobrado. O primeiro esconderijo era uma escada camuflada que levava acima do sótão. Era o maior deles. O segundo foi na despensa, que ficava embaixo da casa, onde guardávamos as batatas e as provisões para o inverno. Meu pai construiu um armário giratório. Só quem sabia como girar o armário tinha acesso à escada que levava à despensa. O esconderijo mais seguro ficava dentro da cozinha. Ele cavou um buraco embaixo da pia, podia levantar uma tampa e se esconder ali.
Com a chegada de tropas aliadas no país, a família começou os resgates. O primeiro, recorda-se Johannes, foi de um piloto canadense que caiu de paraquedas depois de ter sua aeronave alvejada por alemães. O pai apressou-se em recolher o militar e atirar seu paraquedas no rio, para dar a impressão de que o homem tinha se afogado.
Integrante de um grupo de resistência aos nazistas, não demorou muito para que Hendrikus recebesse mais soldados e pilotos, que depois recebiam auxílio para voltar a seus países de origem. Com o agravamento da guerra, logo o sobrado dos Melis ficou repleto de famílias judias. O patriarca os resgatava, um por um, em uma motocicleta. Os homens recolhidos precisavam se vestir como mulheres, lembra Johannes, para que não levantassem suspeitas ao passar de motocicleta pelos oficiais nazistas.
A liberdade foi abaixo quando, em uma ação contra a ocupação alemã, Hendrikus foi pego sabotando um navio nazista. O passe foi confiscado e o sobrado da família foi alvo de inspeções dos nazistas. Um recurso engenhoso ajudou a evitar a descoberta das famílias abrigadas: uma lâmpada foi instalada como sinal de alerta para as invasões dos oficiais, e Johannes foi instruído, junto ao irmão mais velho, a proferir a frase que salvou muitas vezes a vida dos habitantes da casa:
— Bastava eles chegarem perto, e a mãe corria para a cama, parecia ficar doente mesmo, e meu pai se escondia. Chegava a ficar com medo, mas eu e meu irmão íamos juntinhos até a porta e enfrentávamos os alemães, armados como se fossem combater outro exército.
Com a invasão dos Aliados ao país, os combates se intensificaram. Os "tios e tias" de Johannes foram levados a lugares mais seguros, e a família refugiou-se em um bunker a cerca de 500 metros da casa. As chuvas da época, mal comportadas pelo esconderijo, deixaram os Melis flutuando sobre tábuas por semanas. O estoque de alimentos minguou, e o desespero tomou conta dos pais, que viam a água potável também perto do fim:
Hendrikus contrariou a esposa ao sair para buscar água, e foi parado pelos alemães. Combinou-se que a família esperaria o exército nazista no bunker, de onde seria levada para um campo de trabalhos forçados. Mas, mais uma vez, a sorte lhes sorriu:
— Mas ele não desistiu, saiu atrás de água novamente e, dessa vez, foi salvo por soldados do exército Aliado.
Uma pintura e um amor na chegada ao Rio Grande do Sul
Os Melis foram resgatados em um caminhão e levados à cidade de Weerd, onde ficaram até o final da guerra. Hendrikus ainda se alistou para desarmar as minas terrestres da região onde vivia a família, mas, com o início da Guerra Fria, a inquietude logo tomou conta do homem:
— Ele decidiu que íamos nos mudar para a Austrália. Aprendemos inglês, mas acabamos no Brasil, em Butiá. O pai encontrou um amigo de infância, e eles tentaram fundar uma colônia holandesa, nos moldes de Holambra. Chegamos de navio ao Brasil, quando eu tinha 13 anos.
A colônia sonhada pelos imigrantes não vingou. Já em Porto Alegre e muito antes de começar a contar a história de sua infância, Johannes acumulava causos curiosos. Remador exímio, ele e o irmão foram rapidamente naturalizados brasileiros para poderem competir por clubes do Estado. Uma estante na sala de estar de sua casa deixa à mostra dezenas de troféus e medalhas ganhos em torneios. Pares de tamancos de madeira, típicos do país natal, repousam próximos a uma poltrona, lembrando da única ocasião em que Johannes retornou à pátria após a mudança para o Brasil.
Mas a curiosidade fica em torno das numerosas representações de tulipas: estão em quadros, fotos e arranjos pelo cômodo. Melis sorri e explica a recorrência das flores:
— Uma vez uma mocinha, novinha, lá do Interior, queria pintar uma tulipa, mas não sabia como era a flor. Alguém lembrava que eu era holandês e nos apresentou. E a gente começou a conversar mais, foi se conhecendo... — diz ele, entre sorrisos e logo mostra a fotografia de um vestido branco, pintado com tulipas azuis.
A "mocinha do Interior", sua mulher, Maria, pede licença e volta rapidamente com um lenço que pertenceu à sogra, emprestado por Johannes a ela quando era apenas uma professora recém-formada em Tupanciretã, em visita à amiga que os apresentou. Durante os anos que passaram, muitas outras flores foram pintadas. As paredes da casa são repletas de quadros de buquês e de árvores, a maioria feita por Maria — que já não pinta, mas conserva o mesmo entusiasmo quando o assunto são tulipas.
Agora, o sotaque de "r" puxado de Johannes ensina a solidariedade em palestras promovidas pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul para conscientizar estudantes sobre o Holocausto. Ao contrário do pai, que jamais se importou com as condecorações e homenagens que recebeu após o final da guerra, o imigrante vê na história da família uma oportunidade de reflexão:
— Meu pai nunca justificou muito demoradamente porque resolveu ajudar aqueles judeus. O que lembro que ele sempre dizia era isso: Deus é o mesmo para todos.
O homem que pedalou pela vida dos outros
Léo Gerchmann
Assim como Hendrikus Melis foi um valente na Holanda, Gino Bartali se tornou herói na Itália. Um herói da Itália e da humanidade. Não porque ostentasse a fachada de atleta modelo do fascismo sob o regime de Benito Mussolini, como acreditavam seus contemporâneos naqueles sombrios anos 1940. Seu heroísmo se deu pelo motivo oposto, soube-se muitos anos depois. Bartali, um Pelé do ciclismo italiano, eternizou-se como agente antifascista, que, indiferente ao fato de a Itália estar atolada no Eixo ao lado da Alemanha nazista, deu abrigo a famílias judias e transportou, no quadro da sua bicicleta, identidades falsas que salvaram a vida de centenas de judeus.
Conhecido como o Leão da Toscana por sua fibra física e emocional especialmente nos momentos adversos, o ciclista, três vezes campeão do Giro d'Itália (1936, 1937 e 1946) e duas vencedor do Tour de France (em 1938 e 1948), pedalava sua bicicleta em um persistente treinamento para competições suspensas devido ao conflito mundial.
Ninguém entendia tanto esforço supostamente em vão.
O livro que fez justiça
O fato é que Bartali, protegido pela fama de ídolo nacional, levava incólumes, de um lado para outro, documentos que salvaram perseguidos pelo horror. Arriscava sua vida, a vida da sua família e a reputação, em uma história que se tornou conhecida depois que ele morreu pelo livro O Leão da Toscana, recentemente lançado no Brasil.
Com descrições de cenas de forte dramatismo, os autores do livro, os irmãos canadenses Aili McConnon e Andres McConnon, retratam uma época em que o heroísmo implicava grande risco. Um risco assumido por setores da Igreja que convenceram o já antifascista Bartali a ser muito mais que um ídolo movido a pedais sobre duas rodas.
Este momento, em especial, emociona: Bartali é chamado por um antigo amigo, o cardeal Elia Dalla Costa, cotado à época para ser o sucessor do papa Pio XI. Antifascista visceral, Dalla Costa pediu que Bartali o ajudasse na tarefa de salvar judeus das garras de Hitler e Mussolini. "Esses refugiados precisavam de comida, abrigo e documentos falsos de identidade, explicou o cardeal, e ele queria que Gino o ajudasse, atuando como mensageiro da rede, entregando documentos e executando outras tarefas na Toscana e arredores". (...) "Se alguém conhecia aquelas estradas e tinha álibi plausível para nelas estar, esse alguém era Gino Bartali". E continua o livro: "O perigo desse trabalho, no entanto, era inelutável. Dalla Costa foi explícito. Se fosse capturado auxiliando judeus, havia a possibilidade real de que os alemães o prendessem, o executassem no ato ou o mandassem para algum campo de concentração (...)".
Bartali, por motivo de segurança, teria de esconder a missão que assumira até mesmo de sua mulher, Adriana. Certa vez, ela perguntou: "Por que você está treinando, se não tem nenhuma corrida programada?" "Gino parou de se arrumar e se aproximou da mulher. 'Estou só treinando', respondeu, inclinando-se para dar um beijo tranquilo na testa (...)". "Gino queria estar pronto para quando as corridas recomeçassem" — essa era a alegação que ele usava.
Legenda: Johannes Melis, 75 anos, vive hoje em Porto Alegre com Maria, sua mulher, e três filhos





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