02/03/2012

Planta invasora pode salvar lagarto-de-língua-azul

 
lagartos-de-língua-azul (Tiliqua spp)
folha-da-fortuna (Bryophyllum spp)

Vandré Fonseca - Jornalista / Ambientalista

     A folha-da-fortuna (Bryophyllum spp), introduzida na Austrália há 70 anos, está salvando populações de lagartos-de-língua-azul (Tiliqua spp) da ameaça representada pelos sapos-cururus, segundo um estudo publicado pela The American Naturalist, por pesquisadores da Universidade de Sydney. A planta foi levada ao país para decoração e se espalhou por regiões como Queensland e Nova Gales do Sul. Agora faz parte da dieta dos lagartos locais.
    Já os sapos-cururus (Rhinella marina) chegaram à Austrália na década de 1930, introduzidos para controlar uma praga de besouros que destruíam plantações de cana. Rapidamente se espalharam e se tornaram um desastre ecológico. Eles produzem uma toxina, a bufotoxina, que é mortal para lagartos nativos da Austrália que se alimentam de girinos de rãs e sapos. O governo australiano gasta milhões de dólares todos os anos para combater esta praga e mitigar os danos ecológicos que ela provoca.

    Os lagartos-de-língua-azul estão entre as espécies vulneráveis e tiveram suas populações muito reduzidas após a chegada dos cururus no Norte da Austrália. Mas lagartos semelhantes em outras regiões do país estão suportando melhor a invasão dos sapos sul-americanos. “Algumas populações de lagartos são vulneráveis à bufotoxina enquanto outras não são – e as populações com alta tolerância à toxina incluem algumas que nunca foram expostas aos sapos”, afirma Richard Shine, que liderou os estudos.
   Os pesquisadores acreditam que a chave desta adaptação é o consumo da folha-da-fortuna, que produz uma toxina virtualmente igual à do sapo-cururu. Para comprovar esta hipótese, lagartos coletados em locais onde existe a planta e também onde não existe receberam pequenas doses da bufotoxina. O resultado sugere que a planta tem selecionado animais com tolerância ao veneno. “Comer estas plantas preadaptou os lagartos no leste contra o veneno do sapo-cururu”, diz Shine. 

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